Por Jayro Schmidt
Nas artes visuais, e nas demais artes, algumas imagens
são precursoras como a de Odilon Redon em “O perfil azul”, de 1892, pintura com
grande ênfase na simbolização.
Redon foi obcecado por perfis, que em seu tempo eram
muito comuns nos retratos em miniatura, na realidade uma profissão que foi
superada pelos retratos fotográficos.
Os perfis de Redon têm várias dimensões que as próprias
imagens se encarregam de transmitir. A principal dimensão referencia a atividade
onírica, a mulher entre a vigília e o sono.
Dizia que certas imagens são precursoras, mas isso
somente pode-se constatar ao longo do tempo.
Assim como Redon foi magnetizado pelos semblantes
pintados por Leonardo da Vinci, o francês Marcel Duchamp foi contagiado pelo
silêncio que está na obra de Redon, sobretudo no perfil, mais adequado para
traduzir o recolhimento, a reflexão, o estar neste lado e no outro.
Ao querer fazer um autorretrato, em 1957, Duchamp
recorreu ao perfil azul de Redon, ou foi o perfil a motivação da imagem que,
por assim dizer, atualizou a informação acerca do silencioso, do estar semidesperto,
em dois planos que se complementam.
O mais interessante no perfil de Duchamp, ao se valer
do designer gráfico inserido na
comunicação de massa, foi ironizar a ilusão na representação da figura.
Entretanto, de propósito ele articulou a cópia que é feita de fotografias com
papel transparente ou mesmo da própria coisa, dos objetos através da sombra.
Isso Duchamp fez em outra obra, sombra que tem duas
dimensões e que é uma projeção das três dimensões próprias das coisas. E
Duchamp foi mais longe. Pensava que o tridimensional poderia ser uma projeção
da quarta dimensão como se observa no autorretrato.
O perfil no retângulo maior e que entra no retângulo
menor, ambos em duas dimensões, visibilizam a terceira dimensão, passam a
sensação visual de volume que subentende a quarta dimensão, isto é, o tempo da
imagem.
O autorretrato de Duchamp atualizou a percepção da
imagem figural, o mesmo fazendo o designer
gráfico Milton Glaser ao planejar um poster
de Bob Dylan, de 1967.
No campo semântico da imagem, pois toda imagem é
narrativa, o que se tem é a forma. Na de Glaser, que cita a de Duchamp, também há
variações relacionais entre as duas e as três dimensões, e ressaltando que as
linhas curvas, que delimitam e fazem a imagem, sugerem o tridimensional.
Enquanto no autorretrato de Duchamp há a tensão do
perfil com o retângulo amarelo, o perfil de Dylan avança na parte branca do
retângulo que, por sua vez, estende-se para fora da imagem total, sugerindo a
presença distendida de alguém que pensa ou tem notas musicais, ondas sonoras
reafirmadas pelos cabelos psicodélicos.
De Redon a Duchamp, e deste a Glaser, a imagem
transmigrou, tornou-se metaimagem, ou, se preferirem, forma virtual e não
meramente um clone.
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