quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Imagens precursoras

Por Jayro Schmidt


Nas artes visuais, e nas demais artes, algumas imagens são precursoras como a de Odilon Redon em “O perfil azul”, de 1892, pintura com grande ênfase na simbolização.
Redon foi obcecado por perfis, que em seu tempo eram muito comuns nos retratos em miniatura, na realidade uma profissão que foi superada pelos retratos fotográficos.
Os perfis de Redon têm várias dimensões que as próprias imagens se encarregam de transmitir. A principal dimensão referencia a atividade onírica, a mulher entre a vigília e o sono.
Dizia que certas imagens são precursoras, mas isso somente pode-se constatar ao longo do tempo.
Assim como Redon foi magnetizado pelos semblantes pintados por Leonardo da Vinci, o francês Marcel Duchamp foi contagiado pelo silêncio que está na obra de Redon, sobretudo no perfil, mais adequado para traduzir o recolhimento, a reflexão, o estar neste lado e no outro.
Ao querer fazer um autorretrato, em 1957, Duchamp recorreu ao perfil azul de Redon, ou foi o perfil a motivação da imagem que, por assim dizer, atualizou a informação acerca do silencioso, do estar semidesperto, em dois planos que se complementam.
O mais interessante no perfil de Duchamp, ao se valer do designer gráfico inserido na comunicação de massa, foi ironizar a ilusão na representação da figura. Entretanto, de propósito ele articulou a cópia que é feita de fotografias com papel transparente ou mesmo da própria coisa, dos objetos através da sombra.
Isso Duchamp fez em outra obra, sombra que tem duas dimensões e que é uma projeção das três dimensões próprias das coisas. E Duchamp foi mais longe. Pensava que o tridimensional poderia ser uma projeção da quarta dimensão como se observa no autorretrato.
O perfil no retângulo maior e que entra no retângulo menor, ambos em duas dimensões, visibilizam a terceira dimensão, passam a sensação visual de volume que subentende a quarta dimensão, isto é, o tempo da imagem.
O autorretrato de Duchamp atualizou a percepção da imagem figural, o mesmo fazendo o designer gráfico Milton Glaser ao planejar um poster de Bob Dylan, de 1967.
No campo semântico da imagem, pois toda imagem é narrativa, o que se tem é a forma. Na de Glaser, que cita a de Duchamp, também há variações relacionais entre as duas e as três dimensões, e ressaltando que as linhas curvas, que delimitam e fazem a imagem, sugerem o tridimensional.
Enquanto no autorretrato de Duchamp há a tensão do perfil com o retângulo amarelo, o perfil de Dylan avança na parte branca do retângulo que, por sua vez, estende-se para fora da imagem total, sugerindo a presença distendida de alguém que pensa ou tem notas musicais, ondas sonoras reafirmadas pelos cabelos psicodélicos.
De Redon a Duchamp, e deste a Glaser, a imagem transmigrou, tornou-se metaimagem, ou, se preferirem, forma virtual e não meramente um clone.


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