segunda-feira, 1 de abril de 2013

Olhos

Redação do blog



O fotógrafo Danisio Silva, que lançou Florianópolis vista de cima com sucesso de público, enviou por email uma foto que segue seus experimentos acerca do micro elevado à categoria de macro, tudo com lente especial para mostrar o que normalmente não é visto, a insinuação de certas imagens contidas nas mais variadas coisas. Dessa vez, uma enorme maçã como sendo outra coisa, e que fez o editor deste blog recordar a foto da capa de um disco de Tom Zé, Todos os olhos.


O que se vê no ângulo seccionado da maçã é o que também está na imagem da capa do referido disco, lançado em 1973, portanto durante o golpe militar com seus aparatos repressivos, dentre os quais a censura que proibiu ou truncou tantas obras de arte. As que conseguiram passar, algumas usaram artifícios que representam a maneira mais perfeita de neutralizar os dispositivos ditatoriais. Esse é o caso da capa de Todos os olhos, que demonstra o quanto os censores eram menos do que tacanhos, motivadores de tantas piadas que algum dia alguém vai se dar ao trabalho de compilar.

No blog Luis Nassif Online* encontram-se os detalhes sobre a origem da capa, mérito de Décio Pignatari, o concretista mais radical ao ter pensado que o poeta é o designer da palavra e, por extensão, da imagem. O relato é assinado por  Phydia de Athayde com o mote “não é o que parece”, ou seja, é parte do corpo, os lábios de uma mulher envolvendo uma bola de gude, vamos dizer então um grude que lembra o que fica escondido entre as nádegas. Essa foi a ideia de Pignatari para denunciar o regime militar, imagem que se tornou célebre.


O encarregado da façanha semiótica foi o fotógrafo Reinaldo Moraes, assistente de estúdio da agência E=mc2, que convenceu uma namorada “bissexta”. A moça, com a conversa mole de Reinaldo, topou tapar o orifício traseiro com a bolinha, mas a redonda no redondo não se fixava que o jeito foi apelar para outra parte da “namorada-modelo”, os lábios simulando o terceiro olho.

Assim apareceu a imagem da capa, tão experimental como o baiano Tom Zé, cuja história Reinaldo ainda conta, porém com outro detalhe:

“Hoje, quando conto essa história, longe de chocar minha audiência, o máximo que arranco dos meus jovens interlocutores é a indefectível pergunta: “Lavou a bolinha antes da segunda sessão de fotos?”


* Fontes: http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/tom-ze-de-todos-os-olhos-e-a-historia-da-festejada-capa

http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/mais-sobre-a-capa-de-todos-os-olhos-de-tom-ze

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