Redação do blog
O fotógrafo Danisio Silva, que lançou Florianópolis vista de cima com sucesso de público, enviou por
email uma foto que segue seus experimentos acerca do micro elevado à categoria
de macro, tudo com lente especial para mostrar o que normalmente não é visto, a
insinuação de certas imagens contidas nas mais variadas coisas. Dessa vez, uma
enorme maçã como sendo outra coisa, e que fez o editor deste blog recordar a
foto da capa de um disco de Tom Zé, Todos
os olhos.
O que se vê no ângulo seccionado da maçã é o que também está
na imagem da capa do referido disco, lançado em 1973, portanto durante o golpe
militar com seus aparatos repressivos, dentre os quais a censura que proibiu ou
truncou tantas obras de arte. As que conseguiram passar, algumas usaram
artifícios que representam a maneira mais perfeita de neutralizar os
dispositivos ditatoriais. Esse é o caso da capa de Todos os olhos, que demonstra o quanto os censores eram menos do
que tacanhos, motivadores de tantas piadas que algum dia alguém vai se dar ao
trabalho de compilar.
No blog Luis Nassif Online* encontram-se os detalhes sobre a
origem da capa, mérito de Décio Pignatari, o concretista mais radical ao ter
pensado que o poeta é o designer da
palavra e, por extensão, da imagem. O relato é assinado por Phydia de Athayde com o mote “não é o
que parece”, ou seja, é parte do corpo, os lábios de uma mulher envolvendo uma
bola de gude, vamos dizer então um grude que lembra o que fica escondido entre
as nádegas. Essa foi a ideia de Pignatari para denunciar o regime militar,
imagem que se tornou célebre.
O encarregado da façanha semiótica foi o fotógrafo Reinaldo
Moraes, assistente de estúdio da agência E=mc2, que convenceu uma namorada
“bissexta”. A moça, com a conversa mole de Reinaldo, topou tapar o orifício
traseiro com a bolinha, mas a redonda no redondo não se fixava que o jeito foi
apelar para outra parte da “namorada-modelo”, os lábios simulando o terceiro
olho.
Assim apareceu a imagem da capa, tão experimental como o
baiano Tom Zé, cuja história Reinaldo ainda conta, porém com outro detalhe:
“Hoje, quando conto
essa história, longe de chocar minha audiência, o máximo que arranco dos meus
jovens interlocutores é a indefectível pergunta: “Lavou a bolinha antes da
segunda sessão de fotos?”
* Fontes: http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/tom-ze-de-todos-os-olhos-e-a-historia-da-festejada-capa
http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/mais-sobre-a-capa-de-todos-os-olhos-de-tom-ze
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