segunda-feira, 22 de abril de 2013

Proposição

Poema sem título de Érico Max Müller


Detalhe de "Ninfa da primavera", pintura de Lucas Cranach


O que eu proponho é que se erga de vós
a mágica do coração,
que se restaure em vós
o gosto da relva.

O que eu proponho é que se acumule em vós
o polvo de pernas e braços intranqüilos,
a saliva imersa em cinzas.
Sejam instrumentos de vigília
na célula dos estandartes bipartidos;
agora é o momento intemporal dos irmãos,
quando as marés semeiam espinhos
no supremo abraço dos afogados.

Justo aos que não suportarem o impacto
dedicarei a presença mais completa.
Pois a insegurança nos é semelhante,
e onde giram pontes também giramos nós,
e deciframos o copo e o leite.
Transformados como sempre estivemos
Aguardamos o contágio astral.


(Extraído de Ao corpo circunscrito, Edições Livros da Ilha, Florianópolis, 1966) 


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