sexta-feira, 30 de agosto de 2013

LI TAI PO

Da Redação




Bebendo sozinho com a Lua

De um pote de vinho entre as flores,
bebo solitário. Ninguém me acompanha...
Até que, erguendo minha taça, pedi à lua brilhante
para trazer-me minha sombra e para que fizéssemos três.
Ai de mim, a lua era incapaz de beber
e minha sombra me acompanhava despreocupada;
mas ainda por um momento tive dois amigos
para me alegrarem já no fim da primavera...
Cantei. A lua me encorajava.
Dancei. Minha sombra espojava-se no chão.
Tanto quanto me lembro fomos bons companheiros.
E depois fiquei bêbado e nos perdemos um do outro.
... A boa vontade deverá ser sempre mantida?
Fiquei olhando a longa estrada do Rio das Estrelas.



AFRICANISMO

Da Redação


Fotografia de Man Ray



A descoberta da escultura africana por artistas europeus, dentre os quais Henri Matisse, Maurice Vlaminck e Pablo Picasso, redirecionou as formas artísticas em vários sentidos das artes visuais. Para demarcar a importância do que foi chamado pelos historiadores de “africanismo”, Man Ray, que teve um contato efetivo com os Dadaístas, realizou esta foto intermediando o inconsciente e o consciente nas esferas noturnas e diurnas do sonho.



quarta-feira, 28 de agosto de 2013

PULARAM O CANTEIRO

Por Jayro Schmidt



As melhores histórias são contadas por escritores birutas ou, pelo menos, contam histórias de birutas. Deve haver uma diferença de natureza e não de gênero entre uma coisa e outra, mas isso não vem ao caso.
Ler a saga de Ulisses, isso para remontar à mais antiga metáfora da loucura, bem se vê que os deuses é que eram pirados e que, assim, a única maneira de enganá-los era usar as suas armas, as próprias pirações.
Foi o que fez Ulisses, arou a areia com o inverossímil mais verossímil, depois, ou antes, tirou a roupa e cobriu-se de lama ao se apresentar a Nausícaa e suas acompanhantes que devem ter pensado em coisas solertes porque as deusas, naquela época, já eram assanhadas e vidradas por homens minotauros, centauros, unicórnios e narvais.
Os críticos de literatura, e de todas as turas com a licença do lunático Cortázar, dizem que Homero, com Ulisses, deu o tom para todos os loucos posteriores, de Sófocles a Shakespeare, de Cervantes a Rimbaud, sem falar em Rabelais, e assim por diante.
A diferença entre as histórias do passado e as mais recentes é que antes os heróis não tinham como escapar do destino e, para realizá-lo, inventavam as maiores demências para, digamos, não sofrerem muito com o fedor do bode. E como fedeu na história de Sófocles do bodiado Édipo, que comeu a mãe sem querer, mas gostou, assim como ela, Jocasta, motivo para outro maluco de nossa época achar que é um dos pesadelos da infância que se supera simplesmente com água, açúcar, sininhos de cristal e contos de fada da Tia Ôla.
De Shakespeare a Cervantes e deste a Rimbaud, as coisas loucas mudaram de figura. Se não mudassem, claro, não seriam loucas.
O destino, agora, não é mais o avatar dos deuses. Continuou dando sinais, porém revestido de fantasma que o primeiro a ter que encarar foi Hamlet, que pensava bem demais porque pulou o canteiro que Shakespeare soube preparar nos dias posteriores à morte de seu pai, encenando-o num lugar que somente ele sabia o que se passava por dentro da fantasmagoria e confiando em poucos e confundindo os demais, principalmente a heroína com nome de perfume brega, Ofélia, doida por lições de canto orfeônico.
Os apreciadores de turas também dizem que Shakespeare preferiu deixar para Cervantes o trabalho do desvario bem humorado, semelhante, mas diferente da Loucura de Erasmo, que quando nasceu não chorou, sorriu, nascimento dedicado ao amigo Thomas Morus, de Mória, a grande louca que deve tê-lo ajudado a criar a vã esperança moderna, a Utopia.
De Cervantes acho que não preciso dizer muito, pois toda pessoa que se preza é prezada por tornar o desagradável em funâmbulas e fantásticas situações que são capazes de ver num alfinete a torre mais prateada como viu Lautréamont e, Rimbaud, um salão no fundo de um lago.
Pode haver, caros amigos das turas, coisas mais pancadas do que essas?



ABSTRAÇÃO LÍRICA

Da Redação


Pintura de Kandinsky



É uma das duas correntes do abstracionismo presente na pintura de Wassily Kandinsky e de Paul Klee. Com os desenvolvimentos da arte abstrata, transformou-se em uma supercorrente, levada às ùltimas consequências por vários artistas do novo realismo. A abstração lírica condiciona o gesto efusivo, de libertação expressiva, de espontaneidade intuitiva. Trata-se de um panteísmo lírico, cósmico, em cuja manifestação o artista encontra-se sob o efeito de uma dupla osmose: integra a ele o universo enquanto nele se dissolve. Em Claude Monet, especificamente com “Ninfeias”, há a prefiguração deste panteísmo. Na abstração lírica observa-se o nuagisme, que é o tratamento da cor à maneira das nuvens, isto é, levada ao extremo de sua imaterialidade.



segunda-feira, 26 de agosto de 2013

REMISSÃO

Por Mariza Terezinha Martins


Gravura de Antonio Silva



Estive internada durante 15 dias no Hospital de Caridade para tratar do meu câncer que decidiu me atrapalhar a vida um pouco, baixando as plaquetas a ponto de precisar de transfusão. Tudo bem, faz parte, um dia de cada vez.
O Hospital Imperial de Caridade é católico, do ano de 1889, tem mais de cem anos, portanto. Ele é bem característico, com corredores que lembram Igreja, cada qual com sua imagem sacra, parece que adentramos num templo. É mágico, pra não dizer surreal. Têm-se a impressão de que estamos envoltos numa aura mística e eu me senti abençoada. Não, não vou virar um carola, meu templo é minha têmpora, minha espiritualidade.
Talvez estivesse fragilizada, não sei, mas coincidiu com vinda do Papa ao Brasil, e acompanhei pela TV toda sua trajetória aqui e confesso que gostei do bom velhinho, achei-o simpático, simples e autêntico, ele me redimiu com a religião em si, ou talvez mesmo com a Católica. Na verdade sempre tive um pé atrás devido ao mal que ela já fez à humanidade, principalmente essa do Papa, os jesuítas, que insistiam em catequizar nossos índios conforme seus dogmas e crenças, em total falta de respeito a seus já consagrados hábitos de civilidade. Além é claro das Cruzadas e a própria Inquisição. Atraso de 500 anos, esse foi o saldo que a Igreja Católica nos legou.
Gostei do contato que o Francisco (meu santo preferido, pela sua história de vida) fez questão de manter com o povo nas ruas do Rio de Janeiro, gostei também de sua entrevista com o repórter da Globonews, quando ele perguntou sobre as manifestações que aconteciam no Brasil e outras perguntas pertinentes em que ele se saiu muito bem, vale a pena ver a reportagem.
Agora rezo, porque rezar é a respiração da alma. Me pergunto, porque sou especial, porque enquanto os médicos fazem de tudo para me dar o melhor, remédio e tratamento, estudam meu caso com carinho para me dar qualidade de vida e alento eu por outro lado rezo para que esse Papa aproxime mais as pessoas da espiritualidade, porque não consigo entender esse genocídio no Egito, não consigo entender o terrorismo, nem a violência, nem a fome, nem a doença como a malária, que mata mais crianças no mundo todo do que tudo que já foi citado. 
Porque sou especial?
Agora eu rezo!



sexta-feira, 23 de agosto de 2013

CORRENTEZA

Poema de Helena Kolody






Correnteza

Reflexo n’água corrente,
já não sou mais quem fui ontem.
Logo serei diferente.
Cada momento acrescenta
e subtrai o existente.


(Extraído de 3 Poemas, Oficina da Gravura, Fpolis, 1985).



quinta-feira, 22 de agosto de 2013

ESCUTA (El sonido y la furia)

Da Redação




Daniel Ballester*: na rua as coisas acontecem e no rádio a logosfera, todas as línguas, a torre que também se encontra em Macbeth: uma história contada somente com som e fúria.


* Daniel apresenta o programa El sonido y la furia de segunda a sexta, 1 à 4hs da madrugada. www.radiomadre.org

SATÍRICO

Gravura de Antonio C. Silva





Em todos os tempos existem tipos tão ridículos que não há como deixar de ser satírico. Aliás, na época de Juvenal, em Roma, ele cunhou essa frase: Difficile est, satiram non scribere, “É difícil não escrever uma sátira”. A expressão latina de Juvenal jamais perderá a atualidade como se pode ver nesta gravura de Antonio Silva. (J.S.)


RITUAL

Por Jayro Schmidt



Para Vinícius Alves, que sabe o que estou dizendo


Numa crônica de outubro de 1968, Clarice Lispector louva o café, o bom café que tomava antes de iniciar um texto, algo indispensável nas ocasiões que se vai ter que encarar uma situação difícil.
Escrever, por mais prazer que se sinta, é difícil. Às vezes é tão difícil que só o café não basta como em velórios de uma pessoa querida.
Um velório é bem mais difícil para quem fica que o melhor é tomar uma xícara de café com conhaque, uma mistura perfeita que os etílicos recusam com veemência, e com boas razões: é como deturpar uísque com guaraná, mesmo que o aficcionado, e já alto, não consiga mais emborcar o famoso caubói, que costuma fazer o cavalo disparar.
Então o gelo resolve, mas não esfria o bebedor que fica feliz como um sapo em dia de chuva ao ouvir o tilintar dos cubinhos que, com a ponta do dedo, faz dar voltas no copo enquanto sua cabeça também insiste em fazer o mesmo, o que não chega ser perigoso se o cara está no seu canto.
O café, de qualquer maneira, pode amenizar o porre, isso se a porrada não tiver sido grande a ponto de deitar o sujeito. A um bêbado deitado não se pode fazer nada a não ser que esteja estarrado no meio da rua. Mas arrastar um bêbado é mais difícil do que escrever uma crônica: é como arrastar um morto, no caso um morto de beber, que, com o tempo, tende a inchar e esticar a pele do rosto como se tivesse feito uma plástica bem-sucedida que lhe dá aquele ar ao mesmo tempo nem alegre nem triste. Isso, é claro, é mais comum ver em pessoas ditas “sóbrias e respeitáveis” que infestam os meios sociais.
Ainda não tive a oportunidade de arrastar um bêbado ou um morto, somente um homem que foi atropelado, tirando-o debaixo do carro enquanto o motorista se descabelava. Mas, não faz muito tempo, tarde da noite voltava para casa caminhando e houve uma queda de luz pública quase no mesmo instante que vi um bêbado indo pelo meio da rua. Na semiescuridão parecia se sentir confortável apesar de vacilar, e de repente parou, arremessando o corpo para frente... mas uma força contrária, efeito do combustível que ingeriu, o movimentou para trás e caiu de costas. Apressei o passo e vi que ele caiu bem, isto é, não bateu a cabeça no asfalto. Ajudei-o a se levantar pegando sua mão, que respondeu com firmeza. Tive que fazer bastante esforço para levantá-lo, me agradecendo depois que o levei até a calçada: “Obrigado cidadão, obrigado”. Acho que assim fui chamado pela primeira vez. Bom cidadão que às vezes sou, aconselhei-o a ir pela calçada por causa dos veículos ou por causa de outro bêbado, tirando dele um riso gutural.
Segui em frente na rua que se afunilava como se fosse o cenário de um filme de terror. Para me certificar, olhei para ver como estava o homem, que conheço de vista. Estava de novo no meio da rua... Bom, pensei, assim são os bêbados, que não sabem onde estão, ou sabem por analogias porque estão rodeados de sofismas.


terça-feira, 20 de agosto de 2013

1 Ano


Hoje, dia 20 de agosto, o blog completa um ano de existência. Foram publicados 259 postagens e 103 comentários. O blog recebe entre 40 a 50 acessos semanalmente, a maioria de Florianópolis. Quero agradecer a todos que contribuíram com seus trabalhos. Graças a essas contribuições é que foi possível manter o blog ativo.

Abraço a todos os leitores e artistas.

Romulo Schmidt

PROCEDÊNCIA

Da Redação







Solicitado pelo editor deste blog, quando estava definindo seu cabeçalho, enviei o detalhe circular de um ecoline realizado durante os anos 1970, que, na realidade, foi sugerido pelo nome que foi escolhido entre outros, Almenara. O detalhe a traço foi feito para ilustrar um texto que diz sobre o ânimo redondo de Bachelard, sobre a árvore de Rilke e sobre a imagem fractal de Mondrian. (J.S.)



segunda-feira, 19 de agosto de 2013

RAIO BRANCO

Da Redação




A pintura abstrata, para Wassily Kandinsky, dependia do impulso interior como uma realização espiritual da arte. Para nomear este impulso, ele encontrou uma metáfora: o raio branco que fecunda.



É O QUE VOCÊ VÊ

Xilogravura de Helena M. Werner





Estudante

Fotografia de Márcio Henrique Martins




Além do trabalho fotográfico profissional, Márcio Martins tem focado a mulher sob vários aspectos, formando um panorama do feminino, no qual predomina a beleza, não importa em que situação se encontra como nesta foto de uma estudante de pintura, Tainá C. L. M. (Da redação)




sexta-feira, 16 de agosto de 2013

IDOS BEM-VINDOS

Fotografia de Danísio Silva





Os escudeiros da palavra e da imagem, Jayro Schmidt e Daniel Ballester, no final dos anos 1980, na lente curiosa de Danísio Silva.


ESPIRAL

Da Redação


 Robert Smithson

Espiral, Robert Smithson


Land Art, Arte da Terra. É uma atividade conceitual com mudanças ou interferências, geralmente efêmeras, na paisagem. Considerada como uma expressão do Minimalismo (que se caracteriza por obras de grandes dimensões com mínimos recursos), a Land Art foi praticada como reflexão que modela a paisagem pelos norte-americanos Robert Smithson, Dennis Oppenheim, Robert Morris, e pelos ingleses Richard Long e Hamish Fulton. A Land Art, para Caroline Tisdall, “pode ser vista como uma forma contemporânea dos paisagistas, e a sua motivação e estado de espírito estão certamente na tradição romântica”.


RIMBAUD INVENTOU

Da Redação



a cor das vogais para dizer suas “fontes latentes”: A, preto – enxame de moscas; E, branco – tendas, lanças, umbelas; I, vermelho – sangue, lábios, fúria; O, azul – clarim, silêncios, ômega, olhos; U, verde – ciclos, vibrações, montes, fontes.


(Concepção gráfica de Jayro Schmidt)


terça-feira, 13 de agosto de 2013

FLUXUS

Da Redação


Joseph Beuys


Fluxus, movimento formado com as estratégias artísticas de Yves Klein e Piero Mazoni. Reuniu artistas norte-americanos, asiáticos e europeus: George Maciunas, Nam June áik, Emmet Willians, Dick Higgins, Al Hansen, Charlotte Moorman, Takenhisa Kosugi, Wolf Vostel, La Monte Young, John Cage, Yoko Ono e Joseph Beuys. O movimento, no início dos anos 1960, levou a efeito atividades aleatórias e anarquistas com o objetivo de transformar a arte em energia capaz de libertar o indivíduo de qualquer repressão, notadamente psicofísica e política. George Maciunas, em 1962, assim se expressou: “Fluxus purga o mundo de loucura burguesa, da cultura intelectual, profissional e comercializada. Purga o mundo da arte morta, da imitação, da arte artificial, abstrata e matemática”.


A PINTURA E O DESIGNER

Da Redação




A pintura de vanguarda, vista como objeto como esta do holandês Piet Mondrian, foi e ainda é apropriada pelo designer em todos os seus aspectos, como também na arquitetura, nos ambientes e, por assim dizer, marca a sua própria época como cultura que se emancipa de seu criador e ganha outras formas, estas eminentemente práticas.

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

MISS MARICOTA

Pintura de Cybelle Preis


sexta-feira, 9 de agosto de 2013

AQUI E ACOLÁ

Fotografia de Márcio H. Martins




A partir da direita, Bonson, Vecchietti e Jayro num encontro amistoso e heterogêneo, na mesma ordem: o chargista e o tapeceiro que já foram, e o pintor que ficou para contar a história. (J. S.)

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

“PRECIOSIDADE”

Da Redação




A Unesco, em 1960, legou ao mundo uma “preciosidade”, que se espera uma correção se ainda não foi feita. Declararam, entre outras coisas, que um livro para ser livro precisa ter, no mínimo, 49 páginas. Um absurdo com outro absurdo: um livro jamais pode ter um número total de páginas ímpares, somente pares. E o que seriam de tantas obras que não chegam a tanto? Por acaso O existencialismo é um humanismo, de Sartre, por volta de 36 páginas, e Van Gogh, o suicida da sociedade, de Antonin Artaud, por volta de 46 páginas, não são livros? Isso para citar apenas dois opúsculos, sem falar em livros experimentais, dentre os quais há mais a presença da cor da página e tantos outros que pretendem mostrar que um livro é um objeto passível de ser transformado em obra de arte.

BORGES E A COLHER

Por Jayro Schmidt



O escritor argentino Jorge Luis Borges, que suspendia a incredulidade para conceber eras, continentes e almas, acreditava no poder das palavras. Nem sempre, no entanto, sua incredulidade foi completa. Ao falar sobre o alcance dos nomes, e explicando que as palavras são substituídas de geração em geração, se referiu a Cummings, citando um trecho de um de seus poemas que o fez “cair para trás”, mas que estava à altura da “equação sonho-e-vida”:

A terrível face de deus, mais reluzente que uma colher,
colhe a imagem de uma palavra fatal,
de modo que minha vida (que gostava do sol e da lua)
parece algo que não ocorreu.

A colher foi o que fez Borges “cair para trás”, que soou como um disparate, atribuindo a Cummings o mesmo “erro” que cometeu quando jovem: querer ser moderno. Cummings, por isso, antes pensou em “espada”, “vela” e “escudo”, mas, para ser moderno, escreveu colher. Borges, obviamente, estava enganado ou, para poupá-lo, estava velho demais para entrar num jogo de linguagem que faz do banal uma imagem incomum.
Decepcionado com Cummings, mesmo assim Borges o perdoou em função do verso final do trecho citado, a vida que parece não ter ocorrido, para ele “uma espécie de estranha simplicidade”, dando-nos “a essência onírica da vida melhor” do que Shakespeare e Walther von der Vogelweide.

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

FOGUEIRA DA DESPEDIDA

Por Jayme Reis




Em uma noite de novembro de 2009, diante de uma fogueira e sob a égide da Fênix, nasce este trabalho, e de certa forma essa exposição. Estava eu em Tiradentes e me preparava para me despedir da cidade após dois anos de casa-ateliê.
A bela e substancial “fogueira da despedida”, arranjada no quintal da casa, consumia muitos objetos que julgava desnecessários naquele momento; obras eternamente inacabadas, contas pagas e já caducadas, panos velhos, todas as folhas e galhos que estavam no quintal, o livro Marimbondos de Fogo de José Sarney, a velha vassoura que nunca usei e etc... e etc...
Foi quando me ocorreu acrescentar à bela fogueira alguma lenha a mais e um objeto-avião de cor vermelha, pintado com tinta automotiva, que eu acabava de finalizar e já considerava “obra pronta”. Não houve titubeio em minha atitude, havia sim uma imensa alegria em seguir meu impulso, meu insigth.
Enquanto seguia enfeitiçado pelos ruídos da noite que se misturavam sem dissonâncias aos acordes do gênio de Bonn, observava a tinta automotiva se consumindo fantasmagoricamente enquanto se transformava em milhares de matizes. Também me deliciava com um certo “sentimento oceânico” que se agigantava em mim.
Aquela não era uma fogueira a mais em minha vida, ela tinha o poder de amalgamar pensamentos, devaneios, sentimentos e sonhos.
Por isso mesmo comecei a associar a figura da Fênix à imagem do objeto-avião em combustão. Aquela era a minha Fênix.
Curiosamente só retomei este trabalho há muito pouco tempo, esta foi o ultima peça a ser terminada para a exposição. Ficou todo este tempo estacionada em um canto de meu ateliê do Jardim Canadá. As marcas da fogueira estarão presentes para sempre neste trabalho e também em minha alma, afastando para sempre de meu entorno os nefastos e inoportunos.

A força, o dinamismo e o estado de poesia estão garantidos e protegidos para sempre em mim. Não tenho mais tapetes para serem puxados, troquei-os todos por tapetes voadores, que voam muito... muito alto.

EXPOSIÇÃO GRAVAR: TÉCNICA E EXPRESSÃO

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Abertura: 14 de agosto, às 19h
Conversa com artista: 14 de agosto, às 17h30min

Sob o olhar curatorial de Onor Filomeno e Carlos Roberto de Oliveira (Bebeto), a mostra traz 111 obras de 111 artistas com diferentes técnicas de gravura.
De 14 de agosto a 29 de setembro

Oficina de gravura: todas as terças e quintas-feiras, das 14h às 19h, enquanto durar a exposição. Vagas limitadas (13 participantes).
Inscrições: (48) 3953-2312/ 3953-2314





EXPOSIÇÃO DEIXE-ME VER (SANDRA CORREIA FAVERO)

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