Por Jayro Schmidt
As melhores histórias são
contadas por escritores birutas ou, pelo menos, contam histórias de birutas.
Deve haver uma diferença de natureza e não de gênero entre uma coisa e outra,
mas isso não vem ao caso.
Ler a saga de Ulisses,
isso para remontar à mais antiga metáfora da loucura, bem se vê que os deuses é
que eram pirados e que, assim, a única maneira de enganá-los era usar as suas
armas, as próprias pirações.
Foi o que fez Ulisses,
arou a areia com o inverossímil mais verossímil, depois, ou antes, tirou a
roupa e cobriu-se de lama ao se apresentar a Nausícaa e suas acompanhantes que
devem ter pensado em coisas solertes porque as deusas, naquela época, já eram
assanhadas e vidradas por homens minotauros, centauros, unicórnios e narvais.
Os críticos de literatura,
e de todas as turas com a licença do lunático Cortázar, dizem que Homero, com
Ulisses, deu o tom para todos os loucos posteriores, de Sófocles a Shakespeare,
de Cervantes a Rimbaud, sem falar em Rabelais, e assim por diante.
A diferença entre as histórias
do passado e as mais recentes é que antes os heróis não tinham como escapar do
destino e, para realizá-lo, inventavam as maiores demências para, digamos, não
sofrerem muito com o fedor do bode. E como fedeu na história de Sófocles do
bodiado Édipo, que comeu a mãe sem querer, mas gostou, assim como ela, Jocasta,
motivo para outro maluco de nossa época achar que é um dos pesadelos da infância
que se supera simplesmente com água, açúcar, sininhos de cristal e contos de
fada da Tia Ôla.
De Shakespeare a
Cervantes e deste a Rimbaud, as coisas loucas mudaram de figura. Se não
mudassem, claro, não seriam loucas.
O destino, agora, não é
mais o avatar dos deuses. Continuou dando sinais, porém revestido de fantasma
que o primeiro a ter que encarar foi Hamlet, que pensava bem demais porque
pulou o canteiro que Shakespeare soube preparar nos dias posteriores à morte de
seu pai, encenando-o num lugar que somente ele sabia o que se passava por
dentro da fantasmagoria e confiando em poucos e confundindo os demais,
principalmente a heroína com nome de perfume brega, Ofélia, doida por lições de
canto orfeônico.
Os apreciadores de turas
também dizem que Shakespeare preferiu deixar para Cervantes o trabalho do
desvario bem humorado, semelhante, mas diferente da Loucura de Erasmo, que
quando nasceu não chorou, sorriu, nascimento dedicado ao amigo Thomas Morus, de
Mória, a grande louca que deve tê-lo ajudado a criar a vã esperança moderna, a
Utopia.
De Cervantes acho que não
preciso dizer muito, pois toda pessoa que se preza é prezada por tornar o
desagradável em funâmbulas e fantásticas situações que são capazes de ver num
alfinete a torre mais prateada como viu Lautréamont e, Rimbaud, um salão no
fundo de um lago.
Pode haver, caros amigos
das turas, coisas mais pancadas do que essas?
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