Por Jayro Schmidt
O escritor argentino Jorge Luis Borges, que suspendia
a incredulidade para conceber eras, continentes e almas, acreditava no poder
das palavras. Nem sempre, no entanto, sua incredulidade foi completa. Ao falar
sobre o alcance dos nomes, e explicando que as palavras são substituídas de
geração em geração, se referiu a Cummings, citando um trecho de um de seus
poemas que o fez “cair para trás”, mas que estava à altura da “equação
sonho-e-vida”:
A terrível
face de deus, mais reluzente que uma colher,
colhe a
imagem de uma palavra fatal,
de modo que
minha vida (que gostava do sol e da lua)
parece algo
que não ocorreu.
A colher foi o que fez Borges “cair para trás”, que
soou como um disparate, atribuindo a Cummings o mesmo “erro” que cometeu quando
jovem: querer ser moderno. Cummings, por isso, antes pensou em “espada”, “vela”
e “escudo”, mas, para ser moderno, escreveu colher. Borges, obviamente, estava
enganado ou, para poupá-lo, estava velho demais para entrar num jogo de
linguagem que faz do banal uma imagem incomum.
Decepcionado com Cummings, mesmo assim Borges o
perdoou em função do verso final do trecho citado, a vida que parece não ter
ocorrido, para ele “uma espécie de estranha simplicidade”, dando-nos “a essência
onírica da vida melhor” do que Shakespeare e Walther von der Vogelweide.
Um comentário:
Cucharas, cuchillos y cuchetas
http://estafeta-gabrielpulecio.blogspot.com.ar/2010/06/jorge-luis-borges-la-metafora.html
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