A palavra foi
criada por guerreiros e caçadores
e é muito anterior
à ciência:
a palavra pesada
abafa o pensamento leve.
Em nenhum lugar
perguntam por Cavaal Butor, que
– sendo o chacal da
infâmia – vocifera que é privilégio dos vivos
escutar chuva nas
calhas e a música de câmara:
ver o azul de
Matisse e a noite vasta:
tocar a pele do pão
e a nudez da banhista em Cassis:
cheirar os clamores
da concha e o delírio azul marinho:
sentir na língua o
sal e o açúcar.
Cavaal Butor confessa:
eu sempre quis, antes de morrer,
ser o aroma do rum
na garrafa translúcida,
ser um porto, uma
sombra, uma moringa d'água,
ser a tranquila
contemplação do objeto natural.
Não quero perdão:
tudo o que eu quero
é não ser banquete para larvas,
tudo o que quero é
que lavas catequizem larvas,
tudo o que eu quero
é, mesmo com asa quebrada,
escapar da cova
rasa,
tudo o que eu quero
é saber que ardil devo usar
para imaginar o
novo corpo
onde se esboça a
lucilação diversa e outra música.
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