segunda-feira, 17 de junho de 2013

CARTA DE RENATO

Carta para Jayro Schmidt




Caro Jayro:
Nunca li Joyce, comecei o Ulisses, mas não consegui continuar. Em compensação, li Jayro Schmidt! Por exemplo, os versos:

Tudo abandono
menos o mar

Cioran foi contratado para escrever um texto sobre Paul Valéry, escreveu, e o texto foi recusado, porque Cioran foi se dando conta de que Valéry tinha a superstição da linguagem, uma desculpa para roda em volta do núcleo da coisa sem chegar à coisa. Medo? Daí, saiu um texto ferino, contra o grande poeta, e não o publicaram (a não ser depois, no livro Exercícios de admiração, de Cioran).
Os escritores com medo da coisa buscam, à exaustão, a armadilha de outras estratégias: a extensão (Proust), a “invenção” (Joyce, os concretistas), a universalização inesgotável de tudo (Rosa), etc. Já eu me (des)contento com a pobreza de uma Alejandra Pizarnik: “Em mim, a linguagem é sempre um pretexto para o silêncio. É minha maneira de expressar minha fadiga inexprimível”.
Sim, o cansaço, íssimo, de Fernando Pessoa. Estou cansado de tudo, menos de rabiscar esse cansaço na brancura do acaso.
Meu grande abraço,

Renato.

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