Carta para Jayro Schmidt
Caro Jayro:
Nunca li Joyce, comecei o Ulisses, mas não consegui continuar. Em
compensação, li Jayro Schmidt! Por exemplo, os versos:
Tudo
abandono
menos o
mar
Cioran foi contratado para
escrever um texto sobre Paul Valéry, escreveu, e o texto foi recusado, porque
Cioran foi se dando conta de que Valéry tinha a superstição da linguagem, uma
desculpa para roda em volta do núcleo da coisa sem chegar à coisa. Medo? Daí,
saiu um texto ferino, contra o grande poeta, e não o publicaram (a não ser
depois, no livro Exercícios de admiração,
de Cioran).
Os escritores com medo da coisa
buscam, à exaustão, a armadilha de outras estratégias: a extensão (Proust), a
“invenção” (Joyce, os concretistas), a universalização inesgotável de tudo
(Rosa), etc. Já eu me (des)contento com a pobreza de uma Alejandra Pizarnik:
“Em mim, a linguagem é sempre um pretexto para o silêncio. É minha maneira de
expressar minha fadiga inexprimível”.
Sim, o cansaço, íssimo, de Fernando Pessoa. Estou
cansado de tudo, menos de rabiscar esse cansaço na brancura do acaso.
Renato.
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