Por Jayro Schmidt
Caro Renato.
No passado, mais de vinte
anos atrás, minha experiência com Joyce foi relativamente bem-sucedida. Li Os dublinenses e Retrato do artista quando jovem. Quanto a Ulysses, a leitura ficou extraviada, se bem que li de uma tacada só
o monólogo final de Marion, a Molly-Penélope-Bloom.
Fiquei fascinado, pois,
afinal, naquela época lia Kafka (também fascinado), encontrando em Joyce o
oposto de um mesmo teor – o escritor entre o humano e o linguístico, entre o
dizer e o não dizer.
Esta é a fonte que não
seca e que está antes ou depois da literatura em todos os tempos. Alguns
escritores não se afastam do humano – e para tanto precisam de um mínimo
vocabulário como é o caso de Kafka – e outros que também não se afastam, porém
com um vocabulário experimental – como é o caso de Joyce.
O curioso é que ambos os
escritores viveram numa mesma época e em contextos muito parecidos, em uma
palavra, desfavoráveis em termos de linguagem. E assim escreveram sobre um
mundo que morre porque outro nascia. Tanto Joseph K. como Stephen Dedalus são
movidos pelo próprio cansaço – isso
para empregar o teu termo atribuído a Fernando Pessoa e Alejandra Pizarnik.
O mais curioso ainda
(Alejandra Pizarnik se parece com uma personagem kafkiana e com a pintora
mexicana) é que Joseph K. e Stephen Dedalus tiram suas forças místicas
descomunais do cansaço, com paixão e intuição do que poderão vir a ser, embora
seus autores recusem os heroísmos típicos da literatura. Eles, os personagens,
na realidade pouco se cansam nos momentos em que se descortinam nas crianças e
nos loucos – que vivem nas orlas e nas auras.
Enfim, o que quis dizer
mesmo? Tantos possíveis que sem os avanços do linguajar corre-se o risco de
virar, como disse Leminski, Ferreira Gullar.
É isso então, e o meu
abraço,
Jayro.
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