Poema Sem Título de Érico Max Müller
Pintura de Caspar
Friedrich
Esse
é o vale e esta é a mão que o desmancha
para
que ainda maior seja a identidade
entre
os guardiões e os guardados.
Por
muito tempo te distanciaste,
vertebrado
na crônica dos parentes,
e
agora ressurges um nível das noites.
Onde
os anciãos cultivam velas e palavras cansadas,
onde
framboezas contaminam a frágil dança dos amantes,
onde
o gato continua subterrâneo, à espreita
dos
que se uniram sob a proibida imagem.
Talvez
aqui, a lua manchada pelos feiticeiros,
deuses
percorram jardins e clavicórdios.
O
vale é como o poema ou a folha – apalpados,
transmitem-nos
o imponderável tremor de seu ser.
Vale,
célebre vale, tanto cresceste em minha origem,
alimentando-me
de silêncio e certos momentos
evocando
um passado não compartilhado.
Quantas
vezes será preciso cantar-te, ó vale,
até
que eu fique inteiramente submerso
em
teu dorso?
(Extraído de Ao corpo circunscrito, Edições Livros da Ilha, Fpolis, 1966)
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