segunda-feira, 3 de junho de 2013

DIGRESSÕES

Por Jayro Schmidt,
a Silveira de Souza



Caro Einstein,

Circunstâncias relativas acabaram me afastando do país que te abrigou, cujos detalhes não gostaria de comentar agora, impedindo-me de voltar a conversar contigo. Talvez tenhamos outra oportunidade, à beira de qualquer lago como gostas, de continuar o papo sobre mística, que geralmente parece expor o cientista fora de sua esfera.
Não me surpreendo com tua ousadia sobre esse sentimento cósmico porque, ao fazer uma análise de tua língua com finalidades artísticas, pensei que no futuro ela poderá servir para estudos mais significantes acerca de tua personalidade que está a cinquenta anos luz à frente de nosso tempo por estar, ao mesmo tempo, no sentido contrário.
Deguste o efeito que essa frase surte que, em grande parte, devo à tua forma de escrever. Nunca vi tanta clareza dita por quem lida com tantas coisas obscuras. Talvez por isso a luminosidade é para nós, apenas mortais, a trajetória de qualquer cometa, que ao se afastar da terra deixa um rastro de trevas. Cometa que se afasta da terra por vergonha, algo parecido com o que acontece com as personagens de Kafka ao se transformarem em animais.
Depois que li tuas considerações acerca da vida cósmica, fiquei convencido que sem a visão ficcional que tens de sobra, não terias formulado a teoria da relatividade, tão prática em todos os sentidos, começando com o peso, cuja potência está na massa. Peguei um pouco de argila para sentir a evidência de tuas conclusões. Ao apalpá-la, esmagando-a até, recordei meus estudos centrados em uma das premissas da lógica: tudo o que pode ser pensado é possível.
Se não fosse tua mente ficcional, assim como a de quem tanto estimas, Freud, o mundo teria parado de girar fora dos eixos. Sei que me entendes, pois isso não é somente uma metáfora. Se fosse, nem a ficção propriamente dita chegaria aonde chegou graças a algumas mentes preciosas como a de Kafka. Ouso dizer, sem desmerecer outros cérebros, que vocês são as pessoas mais importantes de nosso tempo. O que digo? Vocês são mais importantes que nosso tempo!
Não me desculpo ao ter me apropriado dessa ideia, de um mestre da luz não somente por ser cego. Ele mesmo incentiva isso, deitando por terra todas as presunções literárias. Não é bonito?
Bonito é saber, depois desses parágrafos que têm apenas o mérito das digressões, que já fui pescado por ti na pedra que lancei no lago. Não sei em que vibração fui pego, mas isso é bem pouco uma vez comparado com tua visão: nenhuma verdade se sustenta se não for, por mínima que seja, uma visão mística.
Imagino que isso esteja nas entrelinhas de tua língua, quero dizer, do cosmos, pelo menos do ponto de vista de que todo conhecer é um acreditar.


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