Por Mariza Terezinha Martins
Gravura de Antonio Silva
Estive internada durante 15 dias no Hospital de
Caridade para tratar do meu câncer que decidiu me atrapalhar a vida um pouco,
baixando as plaquetas a ponto de precisar de transfusão. Tudo bem, faz parte,
um dia de cada vez.
O Hospital Imperial de Caridade é católico, do ano de
1889, tem mais de cem anos, portanto. Ele é bem característico, com corredores
que lembram Igreja, cada qual com sua imagem sacra, parece que adentramos num
templo. É mágico, pra não dizer surreal. Têm-se a impressão de que estamos
envoltos numa aura mística e eu me senti abençoada. Não, não vou virar um
carola, meu templo é minha têmpora, minha espiritualidade.
Talvez estivesse fragilizada, não sei, mas coincidiu
com vinda do Papa ao Brasil, e acompanhei pela TV toda sua trajetória aqui e
confesso que gostei do bom velhinho, achei-o simpático, simples e autêntico,
ele me redimiu com a religião em si, ou talvez mesmo com a Católica. Na verdade
sempre tive um pé atrás devido ao mal que ela já fez à humanidade,
principalmente essa do Papa, os jesuítas, que insistiam em catequizar nossos
índios conforme seus dogmas e crenças, em total falta de respeito a seus já
consagrados hábitos de civilidade. Além é claro das Cruzadas e a própria
Inquisição. Atraso de 500 anos, esse foi o saldo que a Igreja Católica nos
legou.
Gostei do contato que o Francisco (meu santo
preferido, pela sua história de vida) fez questão de manter com o povo nas ruas
do Rio de Janeiro, gostei também de sua entrevista com o repórter da Globonews,
quando ele perguntou sobre as manifestações que aconteciam no Brasil e outras
perguntas pertinentes em que ele se saiu muito bem, vale a pena ver a
reportagem.
Agora rezo, porque rezar é a respiração da alma. Me pergunto,
porque sou especial, porque enquanto os médicos fazem de tudo para me dar o
melhor, remédio e tratamento, estudam meu caso com carinho para me dar
qualidade de vida e alento eu por outro lado rezo para que esse Papa aproxime
mais as pessoas da espiritualidade, porque não consigo entender esse genocídio
no Egito, não consigo entender o terrorismo, nem a violência, nem a fome, nem a
doença como a malária, que mata mais crianças no mundo todo do que tudo que já
foi citado.
Porque sou especial?
Agora eu rezo!
5 comentários:
Cara Mariza. Seu texto tem méritos devido a coragem que teve de se abrir. Muitas pessoas têm dificuldade e medo de se comunicar, pensando que isso é fragilidade. Não é. Não tenha medo de se se abrir de se comunicar, ela é também uma arte.
O maior mestre que já existiu em matéria de comunicação foi Jesus Cristo, era hábil nessa forma de comunicar, utilizando exemplos e parábolas e explicava o seu sentido para os mais chegados, seus discípulos. Não sei se fui claro no meu comentário, o que queria te dizer em resumo é. Parabéns por você abrir seu coração e com seu testemunho você se dá a oportunidade de auto conhecer-se, e descobrir valores que todos nós precisamos para se fortalecer, crescer e atingir cumes cada mais altos, chegando até o limiar que é o próprio Deus. Isso não é ser carola é buscar o que a alma se dispõe a encontrar e torço para que você tenha o encontro que sua alma deseja.
Clesio de Luca
Querida Mariza,
Tenho certeza que teus sentimentos contraditórios em relação à igreja católica são partilhados por muitos leitores, inclusive eu. Crescemos dentro dessa 'tradição',mas quando conhecemos mais a fundo a história nos tornamos mais críticos. No entanto aquela espiritualidade que nos foi inculcada desce crianças está lá, escondida em algum cantinho de nossa mente e coração.Ela vem à tona sempre que enfrentamos deficuldades ou simplesmente quando percebemos o passar dos anos. Prefiro pensar que não é por fragilidade que isso acontece, mas porque é o momento certo. É como colo de mãe quando a criança se machuca, ou um aconchego num dia chuvoso e frio. Deixe-se achonchegar nesse momento de 'remissão' e desfrute a força e paz que isso te taz. Um grande araço amiga.
Viviane d'Ávila Heidenreich
Remissão = Re emissão : emitir, imprimir, criar de novo . Será que poderemos nos re-emitir, nos criar de novo ? Imprimir uma cópia de nós, serão nos filhos nossa remissão ?
Infelizmente, dia 01/01/2014, minha irmã Mariza se foi, o cancer contra o qual ela lutava "ganhou" - MALDITO !
Alvaro, lamento muito pela perda.
A Mariza – que contribuiu com um texto para o blog – tem os posts com mais visitas em todo o blog, junto com os posts sobre James Joyce.
Não conheci a Mariza, espero que tenhas forças para seguir a vida com boas lembranças de Mariza.
Abraço
Postar um comentário