Por Jayro Schmidt
Em
recente publicação da Autêntica, O tempo
passa, temos uma nova tradução de Virginia Woolf realizada por Tomaz Tadeu,
também tradutor de Mallarmé, rigoroso e detalhista quanto à natureza dos textos,
fornecendo ao leitor precisas e preciosas notas. O tempo passa é a segunda de três partes de Ao farol.
A
edição tem um efeito gráfico primoroso graças às ilustrações de Jesper
Christian Christiansen, pinturas creditadas apenas no final do livro, no rol de
direitos autorais e na ficha técnica, quando também deveria constar na folha de
rosto, pois, sem as suas imagens o livro poderia
se render ao habitual.
Esses
detalhes são importantes, e mais ainda a polpa do livro, a narrativa de Virginia
Woolf, que inicia com uma força arrebatadora, mas que, a partir do sétimo
capítulo, começa a declinar até o final, no capítulo nono. A desproporção é
gritante. Nitidamente se observa que tudo procede de noemas que, depois, a
autora reconheceu que não teria como ajustar esta parte com as demais. E assim
Virginia Woolf recuou de dificuldades que superou na primeira versão. Outro
fator agravou a sua insegurança quanto ao resultado final porque o papa de
então, Roger Fry, não se sentiu satisfeito.
Aqui
se coloca uma questão crítica, o texto como um ato problemático da escrita que,
desta maneira, atinge novas formas e provoca reações. A principal, em relação à
literatura de Virginia Woolf, foi a de Arnold Bennett, um escritor limitado, que
não chegou a pintar por fora das molduras. Mas o tempo literário passou para
ela quando o curinga irlandês Joyce publicou Ulysses.
A
torre irlandesa caiu na cabeça de Virginia Woolf, deixando-a sem pai nem mãe,
mais sem o Pai, enquanto essa instituição falida é um dos focos que Joyce desfocou,
aliás, logo na primeira parte de Ulysses,
no segundo episódio, o de Nestor na cena
da escola, a história como arte e com
a técnica do catecismo:
–
Os caminhos do Criador não são os nossos, o senhor Deasy disse. Toda a história
humana se conduz a um único fim grandioso, a manifestação de Deus.
Stephen
esticou o polegar para a janela, dizendo:
–
Isso é Deus.
Urra!
Ei! Vhrrvhi!
–
O quê? o senhor Deasy perguntou.
–
Um grito na rua, Stephen respondeu, dando de ombros.
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