Por Jayro Schmidt
A força solar na pintura de Henri Matisse contagiou
jovens artistas em vias de integrarem a primeira vanguarda artística do século
20. O nome do movimento foi dado, pejorativamente, por um crítico obtuso, Louis
Vauxelles, ao visitar a exposição de 1905 em Paris. Disse ele, desconcertado:
“Donatello entre as feras!”
É que Albert Marquet resolveu fazer uma estatueta
clássica, expondo-a no meio de pinturas que ofenderam o olhar daqueles que
ainda pensavam que a arte não deveria ir além da imitação.
E nenhum fauve foi tão longe como Matisse na reviravolta pictórica que fez a estética evoluir
para a semiótica, desta maneira ampliando a gramática do designer gráfico.
Desenho é desígnio, tendo no traço a propriedade ordenadora
que, no caso de Matisse, foi sempre o ponto de partida para a cor numa mistura
do intuitivo e do intelectual.
Ao contrário de seu contemporâneo Picasso – um bronco
quando teve que verbalizar o que fazia – Matisse deixou testemunhos
substanciais nesse sentido. Mais uma vez, com ele, a percepção tornou-se
informativa numa completa relação entre o exterior, com a sinestesia, e o
interior, com a cenestesia.
Matisse chegou a levantar questões da arte que somente
os mais avançados pensadores fizeram. No auge de sua arte ele se perguntou
sobre a atualidade e a posteridade da obra. Deveria, o significado da arte, ser
avaliado com os pressupostos do presente ou da época em que foi realizada?
Sabe-se que a arte perdura quando, sem deixar de ser
de sua época, tem o poder da antecipação. Perdura ao desdobrar seu tempo em
outros tempos, seu sentido em outros sentidos.
A idéia de antecipação está no próprio processo da
pintura de Matisse. Ao atingir determinados efeitos, neles vislumbrava a
potência não somente de outras variações, mas, sobretudo, de diferenças quanto
ao sentido de planificação da imagem como se vê no tratamento dos corpos em
obras que representam a fusão entre o sensível e o inteligível.
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