Redação do blog
Durante o ano de 1899, Vincent van Gogh sentiu medo de
voltar a causar transtornos aos demais. Os episódios de Arles, que culminaram
com a orelha cortada, proporcionaram a ele a plena consciência de sua condição
emocional, internando-se voluntariamente no hospício Saint-Paul-de-Mausole, mosteiro
medieval do século 12, em Saint-Rémy, região em que Nostradamus nasceu.
Entre os loucos, ali ele poderia exilar-se das pressões
externas e não se reconhecendo como herói, mas como alguém que não poderia
fazer outra coisa a não ser pintar. E foi o que continuou fazendo com a
eletricidade do raio que teve a oportunidade de ver o efeito na árvore decepada
quando saiu para pintar.
Tais projeções eletrizadas são sinestesias
concentradas na atividade retiniana com a mesma velocidade com que a luz se desloca
no espaço, deixando um rastro de sombra. Então, como em outras vezes, van Gogh
quis pintar a noite, antes se deparando com corredores, lugares íngremes e
pedreiras. É que o pânico, desde que chegou ao hospício, foi aos poucos cedendo
como se comprova nas obras que realizou do interior ao pátio e deste aos
arredores.
Os corredores contracenam com as paisagens em forma de
funil como se fossem fronteiras de sua mente que recorria a um conflito
perspectivo com dois pontos de fuga, descentrando o ponto de vista único e
enviando a visão a regiões as mais afastadas entre si – que pulsavam em seu
cérebro.
Por outro lado, ao esboçar os corredores, van Gogh
estava dentro, e, depois, postou-se diante da entrada de uma pedreira numa
perfeita reversão de territórios, nos quais a luz e a sombra se confundem, como
se ele quisesse vislumbrar luminosidade na escuridão.
Sabe-se que o pintor recorreu à imaginação nessa
pintura, mas foi constatado por astrofísicos que as posições das estrelas são
as mesmas daquela noite de junho de 1889. O ângulo do olhar, do alto e frontal,
também foi imaginário, aproximando o pintor do firmamento enquanto a
proximidade da aldeia recua entre o cipreste descomunal em forma de labaredas e
as montanhas sinuosas, imagens típicas da alucinação visual.
Assim, a noite estrelada é visionária a partir de uma
experiência comum e tão antiga quanto o homem: somente aos poucos o escuro fica
claro. (J.S.)
Um comentário:
Fico imaginando a dor e a angústia desse artista fantástico. Expressão interna nesta sua tela fabulosa: é noite, tudo se move ao sabor do vento, luz apenas das estrelas, a cidade é apenas um ponto no horizonte distante, o homem está a mercê das forças da natureza. O céu desaba. Internamente nada está em paz... parece que seguimos para o caos primordial, voltamos ao princípio. Se ele pudesse ter um encontro com Deus, talvez pudesse renascer novo neste momento, mas parece que isso Van Gogh não pode fazer.
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