sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Pequena canção

Poema de Ivo Pestalozzi e pintura de Juliana Hoffmann




       



Minhas palavras são turvas,
Como urbes imersas na bruma.
Não espero que entendas nenhuma.


Minhas palavras ficam viúvas,
Esvaem-se uma a uma.
Explicação: você entre algumas.


Por isso, quase não falo.
E, sempre me calo.






quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Anemoi

Poema de Daniel Ballester


Litografia de Jayro Schmidt


Sem criatividade a gente se burocratiza
se torna homem concreto
repete palavras de outro.                     Eduardo Pavlovsky


O mesmo passa com o vento quando meneias teu cabelo e se volta ao Princípio
Do som da rua
Gestos de tremenda piedade se salvam de morrer afogados
Graças à intervenção divina desta opacidade chamada lua.

Os tons rasgados da praça se derramam na dissonante noite
E caem no chão
Qual gotas do rio seco sobre a fortuna dos enfermos.

De há pouco voltei a juntar os pedaços
Que haviam ficado grudados a um tango
E me pus a tossir uns compassos com o pé batendo no piso.

Fumar faz bem
Acalma os alvéolos
Purifica os poros
Afugenta feras
Sopra pianos.

Ui! Tua mente parece endobrar-se ao redor da pele do vento!
Juntos somos juncos capazes de enfrentar todas as corredeiras
Com você me sinto forte, com você sou pecado e libertação
Juntos
Que não passarão.

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Suporte público

Fotografias de Márcio Henrique Martins






Os planejamentos urbanos oferecem não-lugares, espaços que passam a ser refúgio de anônimos e suporte de linguagens. Com o tempo humanizam-se, sem que os planejadores tenham pensado nisso, o que demonstra o atraso cultural em que se encontram. O ensaio fotográfico de Márcio Henrique Martins, com a personificação gestual de Bianca Scliar, acrescentou ao suporte público a pulsação humana adaptando-se às circunstâncias de uma cidade que cresce (por que não?), mas que perde o contato com a sua cultura. (J.S.)


segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Pé na estrada

Redação do blog






Dê uma olhada no post Os pinguins aconteceram, com fotos de Sérgio Sakakibara, que você vai entender porque, nessa foto, ele segura um deles. No caminho do mar, antiga metáfora para os oceânicos percursos das baleias, eis aí a jornada desse fotógrafo, sempre com o pé na estrada e sua lente crítica. Sakakibara é de Curitiba, viveu em São Paulo e Porto Alegre, e, agora, ensina fotografia em Florianópolis. Está se preparando para desenvolver projetos no Museu do Mar, em São Francisco do Sul. Será que ele vai a pé? (J.S.)


sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Obras do esboço

Por Jayro Schmidt




Por ser uruguaio, Luis Viderbost simplesmente chamou seus desenhos de apuntes, apontamentos, que tem o sentido do anotar.
Como os desenhos também conotam as anotações através de outra escrita, esta da imagem, os apuntes são esboços, estudos preparatórios das obras.
Além disso, Luis Viderbost acrescentou o insólito aos apuntes, que é o Sr. Kingston, o que lembra os personagens das narrativas de aventuras típicas de Júlio Verne.
Por outro lado, a ideia de esboço cabe perfeitamente porque todos os desenhos foram feitos após o trabalho durante um mês, como atividade de descontraimento no desenhar ao sabor do momento, da circunstância, no caso o artista recolhido no quarto de um hotel, deitado de bruços e com apenas o bloco de papel apoiado na cama, e empunhando a caneta esferográfica.
A imaginação não precisa de muitos aparatos para se manifestar. Aliás, apresenta-se com todo vigor na mente, o que envolve memória ou o deixar-se levar para outros planos, na realidade passagens de uma camada para outra que o artista tem a capacidade de expressar.
Essa expressão, como não poderia deixar de ser, envolve subjetividade, monólogo interior, relação imediata entre o consciente e o inconsciente ou entre a vigília e o sono.
Pois são essas dimensões anímicas que estão nos desenhos de Luis Viderbost, esboços que são as próprias obras, compondo imagens-fantasmas às vezes com apelos eróticos.
E como se trata de esboços, as fantasmagorias brotaram do ato em si, dos traços que foram dando vida aos impulsos psíquicos do artista receptivo à pareidolia, que é a projeção de fantasmas interiores. Essa atividade subliminar tem parentescos com o arqueológico e o mitológico.
Desta maneira, os vinte e sete desenhos de Luis Viderbost, com esmerada técnica nos envolvem com traços que se voltam para dentro e assim revelam o que habita as cavernas do onírico, nas quais está o imaginário do artista, tornando-o palpável, visível.


quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Carrossel das palavras

Poema de Carlo Manfroi


Pintura de Juliana Hoffmann



Dá pra empurrar
Umas poucas
Palavras soltas
Que se enroscam
Em outras tantas
Fazendo girar
Um carrossel
De ideias loucas



(Poema premiado, segundo lugar, no 8° Concurso Literário Mário Quintana, Sintrajufe, Porto Alegre, RS)


terça-feira, 20 de novembro de 2012

Profanações

Obras de Rosana Bortolin*












* Fotos de Danísio Silva


segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Estranhos

Poema de Rodrigo Garcia Lopes



                    Fotografia de Danísio Silva


Somos pessoas estranhas

somos
pessoas
estranhas
nem sabemos
que sonhos
que somos

esses
olhos
poucos

essas
folhas
secas?

esqueçam
fiquem
calados

somos
estranhos
no entanto

esta noite
dormiremos
lado a lado


Poema de Rodrigo Garcia Lopes, extraído de Solarium, Iluminuras, 1994. 


domingo, 18 de novembro de 2012

Poeta e tradutor (Rodrigo Garcia Lopes)

Redação do blog






Rodrigo Garcia Lopes é poeta e tradutor brasileiro nascido em Londrina, 1965. Vive temporadas na Ilha de Santa Catarina, Florianópolis, formou-se em Jornalismo e, na Arizona State University, realizou mestrado com tese sobre Willian S. Burroughs. Ao retornar ao Brasil, publicou Solarium pela Iluminuras, 1994, e, em 1996, publicou a tradução das Illuminations de Rimbaud, também pela editora Iluminuras. Seu segundo livro de poemas, visibilia, foi publicado pela Sette Letras, 1996. Ao longo destes anos traduziu Ezra Pound, Sylvia Plath, William Carlos Williams, Robert Creeley, Gertrude Stein, Laura Riding, Gary Snyder, Charles Bukowski, John Ashbery, Jim Morrison, Samuel Beckett e White Whitman.  (J.S.)


sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Canto a ILU-AYÊ

Poema de Antonio Cabral Filho



Pintura de autor não indentificado



Negro é raiz da liberdade
mais forte que qualquer outra
e faz nosso povo se unir
hoje muito mais que outrora.
Porém, os chacais que o rondam
ainda encontram lacaios
contra o nosso porvir,
pois quem nasceu para Judas
não se cansa de trair.

Ilu-Ayê tem o sorriso negro
pra fortalecer meus irmãos
e regar a flor da resistência
desde a grimpa dos morros
até à vereda mais úmida
em prontidão na tocaia
para emboscar batistradas
e avisar aos capatazes
que quem brinca com corda
acaba dependurado.

Ilu-Ayê tem o abraço negro
pra fortificar os quilombos
e multidões de zumbis
com suas bandeiras erguidas
pra celebrar nosso rei,
que deu seu sangue por nós
e merece glória eterna.

Ao cismar sozinho relembro
que todo instante da vida
é sempre 20 de Novembro
com a dignidade iluminada
e o espírito pleno de Axé;

pois nossa pele tem mais sol,
nosso céu tem mais luar,
nosso povo tem mais força
quanto mais doar amor.

Não permita Deus que eu morra
sem que ainda faça um poema
digno da beleza negra
com maior engenho e arte,
que exalte Rainha Dandara,
Zumbi e Solano Trindade
com uma imensa Quizomba
para alegrar nossa raça
e cantar para Ilu-Ayê.



nota: dia 20 de novembro é dia nacional da consciência negra.


quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Apotegma de Kafka (01)

Tradução de  Luiz Carlos Mesquita

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Nosso medo


Poema de Erly Welton Ricci

domingo, 11 de novembro de 2012

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Soneto

Vinícius Alves

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Mítica

Desenho, com esferográfica, de Luis Viderbost

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Vestígios

Experimento de Leandro Serpa

domingo, 4 de novembro de 2012

Lixo não é lixo

Por Milka Lorena Plaza Carvajal

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

quinta-feira, 1 de novembro de 2012