sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Obras do esboço

Por Jayro Schmidt




Por ser uruguaio, Luis Viderbost simplesmente chamou seus desenhos de apuntes, apontamentos, que tem o sentido do anotar.
Como os desenhos também conotam as anotações através de outra escrita, esta da imagem, os apuntes são esboços, estudos preparatórios das obras.
Além disso, Luis Viderbost acrescentou o insólito aos apuntes, que é o Sr. Kingston, o que lembra os personagens das narrativas de aventuras típicas de Júlio Verne.
Por outro lado, a ideia de esboço cabe perfeitamente porque todos os desenhos foram feitos após o trabalho durante um mês, como atividade de descontraimento no desenhar ao sabor do momento, da circunstância, no caso o artista recolhido no quarto de um hotel, deitado de bruços e com apenas o bloco de papel apoiado na cama, e empunhando a caneta esferográfica.
A imaginação não precisa de muitos aparatos para se manifestar. Aliás, apresenta-se com todo vigor na mente, o que envolve memória ou o deixar-se levar para outros planos, na realidade passagens de uma camada para outra que o artista tem a capacidade de expressar.
Essa expressão, como não poderia deixar de ser, envolve subjetividade, monólogo interior, relação imediata entre o consciente e o inconsciente ou entre a vigília e o sono.
Pois são essas dimensões anímicas que estão nos desenhos de Luis Viderbost, esboços que são as próprias obras, compondo imagens-fantasmas às vezes com apelos eróticos.
E como se trata de esboços, as fantasmagorias brotaram do ato em si, dos traços que foram dando vida aos impulsos psíquicos do artista receptivo à pareidolia, que é a projeção de fantasmas interiores. Essa atividade subliminar tem parentescos com o arqueológico e o mitológico.
Desta maneira, os vinte e sete desenhos de Luis Viderbost, com esmerada técnica nos envolvem com traços que se voltam para dentro e assim revelam o que habita as cavernas do onírico, nas quais está o imaginário do artista, tornando-o palpável, visível.