“Serei capaz
de não ter medo de nada,
nem de algumas palavras juntas?”
Manuel António Pina
Não
usa sapatos novos
Nem
assoma na janela
O uivo
de sete paredes
Nosso
medo
Ruas
mal-iluminadas
Pedra
assentada no ombro
O que
espreita na lida
Signo
de nenhuma estrela
Crucificada
no erro
Em
vestes corruptíveis
Fala
pelos cotovelos
Entre
ossos e lama e aço
Cerra
olhos e punhos
Nosso
medo
Não
tem a morte no rosto
Não
oferece a outra face
Ferro
e fogo do verso
Cálice
de vinho e veneno
Inverno
de mitos sangrentos
Desperta
mil vezes em cena
É uma
montanha de pedra
Ciência
e deuses no Olimpo
Rosário
de sal e de seca
Nosso
medo
Punhado
de cal na têmpora
O dia
que ainda não veio
Barco
na névoa espessa
Cova
rasa do julgamento
A
linha de qual horizonte
Minúcias
de zinco e areia
São
ferpas e lascas na unha
Estrada
longa e estreita
Reza
pra todos os santos
O
nosso medo
Ferrugem
no pó e nos pelos
O
sangue de metal e fungos
A
certeza de não sabermos
Em
doze motes de cera
Grades
e muros e cercas
Arame
em torno do punho
O
nosso medo
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