Assim como se vem à vida com uma cicatriz, o umbigo,
que poucos não o fazem centro do mundo, a imagem onírica vem conosco, sendo o
que somos. Isso já se sabia bem antes de Freud com Homero, Dante e Shakespeare.
O que sentimos durante o sono, para começo de conversa
e logo a terminando, é o que provoca as imagens do sonho. Na vigília,
obviamente, se dá o contrário: são as coisas que provocam os sentimentos. Há,
portanto, uma relação imediata entre o estar acordado e o estar dormindo.
Como nunca fiz do umbigo o centro de nada, e sim das
imagens oníricas, quero relatar um sonho que mudou a minha vida.
Sonhei que estava em Havana com um grupo de pessoas
que não conhecia. Esperávamos um ônibus e uma mulher discutia com a filha, dizendo
a ela que não iria conosco. Assim que o ônibus chegou, a jovem foi a primeira a
entrar.
Depois dessa imagem houve um branco, que no sonho se
manifesta com uma profunda escuridão.
Ao retornar o sonho já estávamos no centro de Havana e
eu andava ao longo da calçada quando reapareceu a mulher, vindo em minha
direção e chutando uma carcaça exangue. Naqueles momentos senti dor por todo o
corpo, começando entre as sobrancelhas, isto é, na hipófise. A dor foi tão
intensa que não pude caminhar mais. Em seguida ressurgiu a jovem e pegou a
carcaça, abraçando-a e dizendo à mulher: “Não, não chute, é a costela de
Orfeu”.
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