segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Um sem

por Carlo Manfroi


O céu está cinza. Por hora. Não muda nada para quem tem o mundo aqui fora. Da calçada experimento a cidade acordar. Ouço os primeiros estalos, suas dores e lamentos. Meu espelho é o desgosto no rosto de quem passa. Pobre coitado. Pobre diabo, ouço entredentes. Outros leio em pensamento. Sentado na calçada assisto ao movimento. Os mesmos carros, as mesmas pessoas, os mesmos horários. Os mesmos. O céu estava cinza por hora. Não mais para mim, agora. Tenho o mundo pela frente. Atravesso a rua. Conquisto outra calçada. Tudo muda. Agora. Vejo. O outro. Lado. Outras pessoas, as mesmas caras. O que veem? Um sem teto. Sem horário. Sem compromisso. Um sem. Sinto-me mais do que isso. Um ser. Sem ter que repetir todo dia a mesma cara.

Florianópolis, 23 de junho de 2012.



Um comentário:

Ingo Schmidt disse...

Um apátria, sem identidade, sem língua. Um mundo pela frente. Duro, mas bonito.