Os anos 1940 e 1948 estão interligados pela literatura
e pela ciência, que são distintas, mas que ampliam suas fronteiras com a
imaginação.
No início daquela década, o ficcionista argentino
Adolfo Bioy Casares publicou A invenção
de Morel, e, no final, o húngaro Dennis Gabor tornou pública, em teoria, a
holografia.
Antes de tamanho feito científico, que seria posto em
prática com a invenção do raio laser durante a década de 1960, o livro de Bioy
Casares teve repercussão velada, somente entre os iniciados em coisas que
exigem a “suspensão da incredulidade” nas palavras do poeta inglês Coleridge.
Ao acreditar no imaginário, Bioy Casares teve a visão
da holografia ao levar para uma ilha abandonada no Pacífico, dizimada pela
peste, um fugitivo da justiça. Lá ele escreve um diário pelo qual o leitor vai
constatando que algo muda a sua vida para sempre.
Durante os primeiros dias na ilha, ele sobrevive
abrigado nas edificações abandonadas, numa delas encontrando uma estranha
máquina que mais tarde vai descobrir que se trata de uma invenção capaz de
transportar os homens deste plano, o do tempo relativo, para o plano do tempo
absoluto.
A tal máquina é movida pelas marés e capta os humanos,
projetando-os no espaço com a imagem, o simulacro em três dimensões, portanto o
holograma, enquanto a holografia propriamente dita pressupõe o suporte para ser
vista.
Mas como o personagem-narrador saberá isso, do engenho
dotado de uma infrafina capacidade de duplicação de qualquer coisa?
Num determinado dia ele vê que não está mais sozinho,
que um grupo de pessoas chegou, escondendo-se na parte alagada da ilha. Poderia
ser reconhecido e toma todos os cuidados para não ser visto.
Mas não resiste à curiosidade, aproxima-se ao sentir
que uma mulher, que todos os dias contempla o crepúsculo da tarde, o magnetiza.
Por ela se apaixona com tanta intensidade que não pode evitar mais a
aproximação. É então que descobre que não é visto por ela e pelos demais.
Resolve então, para estar junto de quem ama, se
submeter à máquina e o faz sem saber que as radiações provocam a perda do
corpo, a morte do tempo relativo.
Essa foi a visão de Bioy Casares, aos 26 anos, o
invento de Morel. Nas vezes em que foi perguntado sobre, e não foram poucas,
Bioy Casares desconversava, dizia que era apenas um ficcionista, que imaginava
histórias que tinha o dever de escrevê-las.
E foi o que fez, sem se atribuir nenhuma genialidade.
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