segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Noite Estrelada

Redação do blog






Durante o ano de 1899, Vincent van Gogh sentiu medo de voltar a causar transtornos aos demais. Os episódios de Arles, que culminaram com a orelha cortada, proporcionaram a ele a plena consciência de sua condição emocional, internando-se voluntariamente no hospício Saint-Paul-de-Mausole, mosteiro medieval do século 12, em Saint-Rémy, região em que Nostradamus nasceu.
Entre os loucos, ali ele poderia exilar-se das pressões externas e não se reconhecendo como herói, mas como alguém que não poderia fazer outra coisa a não ser pintar. E foi o que continuou fazendo com a eletricidade do raio que teve a oportunidade de ver o efeito na árvore decepada quando saiu para pintar.
Tais projeções eletrizadas são sinestesias concentradas na atividade retiniana com a mesma velocidade com que a luz se desloca no espaço, deixando um rastro de sombra. Então, como em outras vezes, van Gogh quis pintar a noite, antes se deparando com corredores, lugares íngremes e pedreiras. É que o pânico, desde que chegou ao hospício, foi aos poucos cedendo como se comprova nas obras que realizou do interior ao pátio e deste aos arredores.
Os corredores contracenam com as paisagens em forma de funil como se fossem fronteiras de sua mente que recorria a um conflito perspectivo com dois pontos de fuga, descentrando o ponto de vista único e enviando a visão a regiões as mais afastadas entre si – que pulsavam em seu cérebro.
Por outro lado, ao esboçar os corredores, van Gogh estava dentro, e, depois, postou-se diante da entrada de uma pedreira numa perfeita reversão de territórios, nos quais a luz e a sombra se confundem, como se ele quisesse vislumbrar luminosidade na escuridão.
Sabe-se que o pintor recorreu à imaginação nessa pintura, mas foi constatado por astrofísicos que as posições das estrelas são as mesmas daquela noite de junho de 1889. O ângulo do olhar, do alto e frontal, também foi imaginário, aproximando o pintor do firmamento enquanto a proximidade da aldeia recua entre o cipreste descomunal em forma de labaredas e as montanhas sinuosas, imagens típicas da alucinação visual.
Assim, a noite estrelada é visionária a partir de uma experiência comum e tão antiga quanto o homem: somente aos poucos o escuro fica claro. (J.S.)


Um comentário:

Cynthia Lopes disse...

Fico imaginando a dor e a angústia desse artista fantástico. Expressão interna nesta sua tela fabulosa: é noite, tudo se move ao sabor do vento, luz apenas das estrelas, a cidade é apenas um ponto no horizonte distante, o homem está a mercê das forças da natureza. O céu desaba. Internamente nada está em paz... parece que seguimos para o caos primordial, voltamos ao princípio. Se ele pudesse ter um encontro com Deus, talvez pudesse renascer novo neste momento, mas parece que isso Van Gogh não pode fazer.