Redação do blog
O caminho verdadeiro segue por sobre uma
corda, que não está esticada no alto, mas se estende quase rente ao chão.
Parece mais determinada a fazer tropeçar do que a facilitar o trânsito.
A partir de certo ponto não há mais
retorno. Esse é o ponto que deve ser alcançado.
O momento decisivo do desenvolvimento
humano é perpétuo. Em torno, movimentam-se os espíritos revolucionários, os
quais, em verdade, buscam inutilmente de antemão tudo explicar, pois nada
definitivo ainda aconteceu.
Leopardos invadem o templo e bebem toda
a água da pia de sacrifícios, deixando-a vazia. Isso se repete sempre. Por fim,
o evento pode ser previsto e torna-se parte da cerimônia.
Compreender a ventura de que o chão,
sobre o qual estás parado, não pode ser maior do que os dois pés que o cobrem.
Com tradução de Silveira de Sousa, esses aforismos são
de 28 desaforismos, livro publicado
pela Editora da Ufsc e Bernúncia.
Na apresentação do tradutor, ficcionista de ponta, constata-se
o porque do neologismo do desaforo, e ainda mais quando se lê Kafka nessa forma
mínima, na qual o autor não viu as luzes de sua época, porém as trevas. Se não
fosse isso, Kafka não seria o principal representante daquele tempo que
respinga no atual, e que Harold Bloom chamou de Era do Caos.
Kafka pensava que não tinha o direito de lutar contra
a sua época, porém o direito de representá-la. Se o eu ampliado de Kafka no
agonismo da história não podia lutar, é o provisório na consciência que ele
negou com a ficção considerada por Jorge Luis Borges como “parte da memória
humana”.
Para o escritor argentino que o considerava seu
precursor, Kafka é mais importante que nossa época. (J.S.)
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