Poucas pessoas sabem que C. Ronald faz artes visuais.
Agora, com a delicada insistência de Juliana Hoffmann, ele resolveu tornar
público um panorama que à primeira vista abriga inquietações acerca da arte que
se dá no plano, a pintura, e no volume, a escultura.
Assim, muitos perguntarão: Mas, C. Ronald não é poeta? Sim, poeta, e dos mais rigorosos –
quero dizer, poeta que faz das percepções a aguda manifestação da liberdade poética
ao revelar que o homem de nosso tempo é aquele que soçobra.
Não pretendo, aqui, fazer maiores esclarecimentos
acerca da simpatia que os escritores têm pelas formas propriamente ditas a
ponto de mobilizarem as suas energias em torno, ou através, da materialidade
pictórica e escultórica. Digo apenas que nas palavras e nas formas há a imagem,
sempre a imagem em primeiro lugar e, em segundo, o sentido.
Arrisco a dizer que é o sentido da imagem mais
palpável que fez C. Ronald envolver-se com pintura e escultura, e esse sentido,
que irrompe do gesto psicofisiológico, torna visível um choque entre o imanente
e o transcendente que permeia a sua poética com as palavras.
“Música”, pintura e
colagem
Quando a referência é o gesto, que se apresenta na
vibração das pinceladas e no vestígio das mãos na argila, prevalecem as
sensações momentâneas, que intensificam a expressividade, fazendo com que a
pintura e a escultura sejam arenas nas quais ocorrem embates entre o conhecido
e o desconhecido, o dizível e o indizível, o manifesto e o latente.
“Amor”, argila
O gesto, por outro lado, não perde tempo com detalhes,
pois a velocidade com que aparece – como se fosse a do raio – busca a imagem
absoluta como se observa nas pinturas e nas esculturas de C. Ronald. Diria que
ele, nos interstícios desse surgir e desse fazer, que são indissociáveis, acaba
encontrando o espectro das coisas como se a pintura e a escultura fossem os
meios mais adequados da apocatástase.
Sendo o espectro, vamos dizer que C. Ronald capta a
alma do instante, de todos os instantes da cultura que o criou.
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