domingo, 14 de outubro de 2012

Poeta pintor-escultor


Por Jayro Schmidt



Poucas pessoas sabem que C. Ronald faz artes visuais. Agora, com a delicada insistência de Juliana Hoffmann, ele resolveu tornar público um panorama que à primeira vista abriga inquietações acerca da arte que se dá no plano, a pintura, e no volume, a escultura.
Assim, muitos perguntarão: Mas, C. Ronald não é poeta? Sim, poeta, e dos mais rigorosos – quero dizer, poeta que faz das percepções a aguda manifestação da liberdade poética ao revelar que o homem de nosso tempo é aquele que soçobra.
Não pretendo, aqui, fazer maiores esclarecimentos acerca da simpatia que os escritores têm pelas formas propriamente ditas a ponto de mobilizarem as suas energias em torno, ou através, da materialidade pictórica e escultórica. Digo apenas que nas palavras e nas formas há a imagem, sempre a imagem em primeiro lugar e, em segundo, o sentido.
Arrisco a dizer que é o sentido da imagem mais palpável que fez C. Ronald envolver-se com pintura e escultura, e esse sentido, que irrompe do gesto psicofisiológico, torna visível um choque entre o imanente e o transcendente que permeia a sua poética com as palavras.

“Música”, pintura e colagem de C. Ronald
“Música”, pintura e colagem

Quando a referência é o gesto, que se apresenta na vibração das pinceladas e no vestígio das mãos na argila, prevalecem as sensações momentâneas, que intensificam a expressividade, fazendo com que a pintura e a escultura sejam arenas nas quais ocorrem embates entre o conhecido e o desconhecido, o dizível e o indizível, o manifesto e o latente.

Amor, argila - C. Ronald
“Amor”, argila

O gesto, por outro lado, não perde tempo com detalhes, pois a velocidade com que aparece – como se fosse a do raio – busca a imagem absoluta como se observa nas pinturas e nas esculturas de C. Ronald. Diria que ele, nos interstícios desse surgir e desse fazer, que são indissociáveis, acaba encontrando o espectro das coisas como se a pintura e a escultura fossem os meios mais adequados da apocatástase.
Sendo o espectro, vamos dizer que C. Ronald capta a alma do instante, de todos os instantes da cultura que o criou.


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