Além da invenção de nomes, que são oportunos para
identificar situações que fazem parte dos costumes, ditos de poetas são assimilados
no cotidiano.
Famosos são os de Drummond, tinha uma pedra no meio do caminho, e de Mário Quintana, eles passarão, eu passarinho.
Drummond foi duramente atacado por causa do tinha, considerado um erro gramatical,
como de fato é, pois ali deveria estar havia.
O erro, e seus detratores não se deram conta, foi empregado de propósito, isto
é, o poeta quis incorporar ao poema a fala comum naquele ponto de vista de
Oswald de Andrade, “a contribuição milionária de todos os erros”.
Afinal, Drummond é um dos filhos mais legítimos do
modernismo brasileiro, como também Mário Quintana. No caso desse poeta, seu dito
foi dirigido aos que andaram criticando-o com pedras.
Ilustração de Antonio
Silva
Outro dito que foi devidamente aclimatado no dia-a-dia
é tudo vale a pena se alma não é pequena,
de Fernando Pessoa, que, sem deixar de ser ele mesmo, foi outros poetas, os heterônimos.
Esse verso se encontra em “Mar português”, do único livro publicado em vida, Mensagem.
E por que veio na mente do poeta essa epifania?
Depois de comparar o sal do mar com as lágrimas de
Portugal – lágrimas de mães, filhos e noivas para que deles fosse o mar – o
poeta pergunta e responde:
Valeu a pena?
Tudo vale a pena
Se a alma não
é pequena.
Bonito, não? O poeta, apesar de alienado ou avesso à
história dos outros, comove. E como! O que não comove é os portugueses sem alma
que passaram pelo cabo Bojador e em terras brasílicas arrasaram.
* O cabo Bojador, que também era
chamado de cabo Não e cabo do Medo, situa-se na costa africana. Acreditava-se
que as correntes marinhas, e monstros, não deixariam retornar quem o dobrasse.
O primeiro navegador a ir e voltar pelo Bojador foi Gil Eanes, em 1434.
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